TEXTOSENSAIOS

Academia de Letras: o que é, o que deve ser - José Carlos Laitano

20 de junho de 2018

Por vezes é mais prático começar um debate pela negação: o que não deve ser uma Academia de Letras.

Não deve ser palco para egos inchados ou prêmio no ocaso da vida, para reconhecimento como personalidade intelectual, pois o que permanece não é a pessoa, mas a sua obra, se for densa e universal.

Não deve a Academia confundir-se com grêmio literário ou associação de escritores. Essas agremiações, importantes no cenário cultural, todavia essencialmente corporativas, promovem lançamentos de livros, congraçamentos, divisão de esforços para o aproveitamento coletivo de eventos, como feira de livros, ou divulgação de suas obras, especialmente as coletâneas. Para ingresso nessa comunidade de escritores, basta a publicação de texto – antes, no formato de livro; hoje, em qualquer mídia, mesmo a particular, como o blog – o que, em absoluto, é demérito.

A Academia de Letras é, sobretudo, institucional. Visa o estudo e o aprimoramento da língua nacional; o exame ou reexame da história do seu povo; o registro da linguagem regional.

A Academia cultua a memória dos seus escritores, nacionais e estrangeiros, suas vidas e obras, revivendo-os perante as novas gerações.

Sobretudo, o papel da Academia é muito próximo, senão inserido, no agir do Estado, na gestão cultural e educacional dos governos, discutindo seus conceitos. Sábio o governante que conclama seus acadêmicos para essa tarefa superior.

Do acadêmico exige-se o estudo e a produção de textos ensaísticos com elevado nível de aprofundamento dos temas, além da produção da sua própria obra literária.

Portanto, na presente visão pragmática e concisa do tema proposto no título, não cabe, no seio acadêmico, intelectuais sem o perfil necessário para a enorme tarefa do Sodalício. É importante a sua obra literária, mas não suficiente.

A Academia de Letras realiza seu mister institucional, como antes posto, sem detrimento de realizações como seminários, simpósios, congressos ou cursos, propiciando a presença de grandes pensadores, artistas e ativistas culturais.

Em todo o universo acadêmico, em qualquer país, é natural a alternância de momentos de grandiosos feitos e fases de profundo ostracismo, e tais períodos de dormência resultam do envelhecimento dos seus membros imortais, eis que vitalícios; e eventualmente em razão de dissessões internas motivadas pela disputa de poder ou dificuldade em conviver com os contrários.

Mas também é fato histórico – e o relato das academias rio-grandenses assim indicam – que sempre surge o paladino da cultura que faz renascer o espírito de aventura da Arte, como um Olimpio Olintho de Oliveira, Olinto Sanmartin, João Cezar de Castro ou Dante de Laytano.

É a fase que vivenciamos, hoje, no Rio Grande do Sul, desde os anos 80, com o esforço de Dante de Laytano, que permaneceu oito anos liderando o nosso mundo acadêmico com seu lastro cultural-político-social; e seus sucessores, que mantêm a Academia Rio-Grandense de Letras em pleno funcionamento, embora ainda comedida, preocupada com suas estruturas internas, em recobrar o reconhecimento público, que lhe é devido.

A Academia Rio-Grandense de Letras conta, cada vez mais, com nomes dotados de luminosidade própria, e ensaia um passo adiante. Aglutinando as academias municipais e regionais no Estado, cada qual com suas singulariedades; difudindo a ideia dos verdadeiros objetivos acadêmicos; irmanando-se aos Órgãos governamentais no fazer cultural.

Como declarou, faz algum tempo, o professor Fritz Teixeira Sales, um dos organizadores da Universidade de Brasília: “uma academia é definida como instituição que tem por objetivo mais imediato reunir uma elite intelectual que seja expressão e sustentáculo cultural de um dado momento histórico”.

E, mais adiante: “as academias são, frequentemente, acusadas de serem instituições fossilizadas, estagnadas e inoperantes. Quando ocorre terem fundamento essas denúncias, a culpa cabe, sem dúvida, aos próprios acadêmicos. Afinal, poucos têm, como eles, tanta autoridade intelectual e social para fazer algo de objetivo para nossas letras”.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 40

Alceu Wamosy

Alceu de Freitas Wamosy nasceu em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em 14 de fevereiro de 1895, filho de José Afonso Wamosy e Maria de Freitas Wamosy. Es-tudou no Colégio Urugiiaianense, de sua cidade natal e em Alegrete. Jornalista desde a adolescência, Alceu Wamosy iniciou-se como redator de A Cidade em 1909 na cidade de Alegrete. Em 1911 já dirigia o mesmo.

Em Porto Alegre, foi redator, em 1915, de O Diário e A Federação. Em 1918, foi diretor em Santana do Livramento de O Republicano. Em 1923, com o início da Revolução...

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