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Saudação a Christian David - Caio Riter (14/09/2022)

14 de setembro de 2022

Na pessoa do ilustríssimo escritor Rafael Bán Jacobsen, presidente da Academia Rio-grandense de Letras, que hoje acolhe como acadêmico o escritor Christian David, meu amigo pessoal e parceiro de muitas empreitadas literárias, quero cumprimentar a todos os presentes: meus companheiros acadêmicos, os familiares e os amigos do escritor que hoje toma posse na cadeira 24, representantes de entidades que semeiam livros e leitura por nosso estado, por vezes lutando contra as mais diferentes dificuldades: fechamento de bibliotecas escolares, pouco (ou nenhum) investimento em livro e em leitura, cancelamentos de eventos literários tradicionais, só para citar algumas pedras espalhadas pelo caminho.

A literatura é mesmo oásis em deserto.

Por vezes, na aridez das mentes e dos corações humanos, a centelha acesa por um livro, por um fragmento de prosa, por um verso, é o início de uma relação afetiva com o sonho e com a desacomodação. Um livro sempre agrega valores em nós, tira-nos do prumo, atiça-nos o sonho, desvia nosso olhar para o outro, faz com tenhamos possibilidade de nos recompreendermos e de buscarmos novos entendimentos para o que nos cerca.

E se o livro chega cedo em nossos corações, mais tempo teremos para conviver com ele. Assim, embora ainda se perceba certo pré-conceito e bastante preconceito com quem destina suas palavras literárias à infância e à adolescência, períodos ricos em transformações, em tentativas de compreensão do mundo e do próprio ser humano, é de fundamental importância que autores de literatura infantojuvenil existam.

Autores e autoras que escrevem para a infância são a garantia de novos leitores; eles são os primeiros a semear a palavra literária em corações contaminados pelo imediatismo que estes tempos têm imposto a todos, inclusive às crianças e aos adolescentes, deslegitimando suas dores e angústias, protegendo-os em demasia dos sofrimentos tão necessários ao viver.

Assim, acolher o escritor Christian David, cuja obra dirige-se prioritariamente às crianças e aos adolescentes, só me deixa feliz. A Academia Rio-Grandense de Letras acolhe, pois, mais um escritor que, como eu, entende a importância de construir mundos ficcionais e universos poéticos que querem abraçar a infância.

Conheci o Christian há alguns anos, em um evento criado e coordenado pela Marô Barbieri: o Fórum de Literatura Infantojuvenil. Lembro do escritor iniciante, livro na mão, editado com recursos do Funproarte, hoje pouco ativo. Lembro também de ele me ofertando seu livro e de eu o convidando para um brinde ao livro que a Associação Gaúcha de Escritores costumava realizar por ocasião do Dia do Livro. A partir deste momento, nossos caminhos de leitura e de escrita passaram a se cruzar.

Aqueles eram tempos outros, tempos em que a cultura e a literatura tinham espaço mais consistente nas políticas de leitura de nossa cidade e de nosso Estado.

Juntos, criamos a Reinações: confraria da leitura, que em 2022 completou 15 anos de existência.

Juntos, dirigimos a AGEs por dois mandatos; juntos, participamos de várias feiras de livro e de diversos eventos literários; juntos, recentemente, criamos o grupo Seis + 1, coletivo de escrita que, este ano, lançou o romance juvenil “e fiquem bem”, escrito a doze mãos. As nossas e mais as de Alexandre Brito, Gláucia de Souza, Antonio Schimineck e Laura Castilhos.

E, agora, juntos ritualizamos seu ingresso na Academia Rio-Grandense de Letras.

Christian David é escritor, biólogo de formação, foi presidente da Associação Gaúcha de Escritores no biênio 2017-2018, além de participar como vice-presidente em diversas gestões. Christian possui pós-graduação em literatura brasileira pela UFRGS e muitas publicações: romances, contos, poesia, quadrinhos, além de vários prêmios e distinções, dentre eles, inclusive o troféu Carlos Urbim, concedido por este sodalício em 2019 para o livro “Quintal de sonhos”. Sua carreira literária, iniciada em 2003, com a publicação do livro “O monge Rei e o Camaleão”, soma 26 títulos, sendo o mais recente “Azul Real”, publicado este ano, que retoma os motivos e os personagens dos contos de fadas, ao mesmo tempo que discute o uso do poder como forma de opressão, tema bastante necessário atualmente.

E sempre.

Sua obra aborda temas existenciais, mas também mergulha no universo da fantasia, do sobrenatural, sendo que seu interesse pelo universo do fantástico fez com que fosse um dos idealizadores e coordenadores da Odisseia de Literatura Fantástica, que já teve várias edições, reunindo autores e leitores deste gênero tão atrativo à criança e ao adolescente, mas não só a eles.

Enfim, por sua trajetória, Christian, é muito bom tê-lo conosco: como escritor, como promotor de ações que visam a incentivar a presença do livro e da leitura nos mais diferentes espaços, como artista atuante politicamente a favor dos direitos daqueles que escrevem. A Academia Rio-Grandense de Letras se sente valorizada com sua presença, assim como me sinto honrado em ser aquele cujas palavras pretendem acolhê-lo em nosso meio.

A palavra corporifica, a palavra cria, a palavra convida para que enveredemos por outros mundos, a palavra nos inquieta, nos sugere, nos constrói, nos torna. Assim, ser artífice da palavra pressupõe, sempre, ser um defensor de sua presença onde quer que ela se faça necessária. E você sabe disso, Christian David.

Seja, pois, bem-vindo à Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 5

Bernardo Taveira Júnior

(por Amir Feijó Pereira)

Bernardo Taveira Júnior nasceu em Rio Grande a 5 de julho de 1836 e faleceu na cidade de Pelotas aos 19 de setembro de 1892. Completou os preparatórios em São Paulo para onde se transferiu com o objetivo de ingressar na Faculdade de Direito; faltando-lhe recursos, voltou para a província. Durante toda sua vida exerceu o magistério, chegando a fundar uma escola em São Gabriel, onde viveu por quatro anos. Após, regressou a Pelotas para continuar exercendo a mesma profissão até seus últimos dias.

Em Pelotas exerceu o magistério...

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