TEXTOSARTIGOS

Violência nas Escolas - Heino Willy Kude

30 de novembro de 2014


 
Sempre apreciei a seguinte piada:
Um pai perguntou ao filho que só trazia notas de conceito ótimo para casa:
- Tu já deves ter reparado que tens colegas de aula que sempre sentam longe da professora e durante a aula só pensam em balbúrdia, conversando sobre temas que nada têm a ver com a aula? 
- Sim, pai, temos dessa gente na aula.
- Trata de te dar bem com eles, pois serão teus futuros chefes na vida.
Quem é que não tinha colegas na aula que nada queriam saber de estudar e que, pelo menos, antigamente eram repetentes? Por diversas razões, mantive relações de amizade com tais colegas, acima de tudo, pelo esporte que praticamos. Não falo muito em amizade, pois o fato de tais elementos sempre desejarem cola, em muitas oportunidades, criam-se atritos e irritação de parte a parte. Pois ao conversar com estes meus colegas, notei serem eles, sob vários aspectos bem mais inteligentes que eu que poderia me considerar um aluno uma pouco acima da média, tipo nota sete a oito. Na oportunidade ainda não pensei em escrever o meu livro Será que Freud Explica? Ainda não havia estabelecido as tipologias que deduzi existir como fundamental no decorrer da vida dos pequenos agrupamentos humanos na pré-história em que alguns integrantes eram os encarregados da segurança a quem chamei logicamente de guerreiros e outros eram os encarregados de trabalhos, como colher frutas e a quem chamo de trabalhadores de índole pacífica. Nascemos já programados para tais tarefas numa época em que não existiam educandários preparatórios. Sei que minha teoria é polêmica e os entendidos da matéria – pelo menos, por enquanto - não concordam comigo.  Mas devem todos ter passado por uma das experiências: Desde o primeiro dia de aula havia crianças que brigavam e outros que tinham aversão a conflitos.  Normalmente os brigões eram aqueles alunos aos quais se referia a piada no início do presente artigo. Lamento não ter conhecido tal piada na hora de me matricular no primeiro ano – digamos, do ginásio - para investigar. Mas devo reconhecer que este jovens normalmente eram mais pragmáticos.  Eu conhecia a matéria da aula profundamente, mas muitas vezes a partir dos treze anos de idade me perguntei para o que serve isso? É que percebi que normalmente nenhum adulto sabia o que seria análise sintática de um texto, nem quantas eram as batalhas de Guararapes. Mas como resposta ouvi eu que é bom estudar tudo isso, pois para algo pode servir. Imaginem o que teria acontecido eu ter ouvido de meus pais, como outros o ouviram: Tudo isso aí é besteira e não serve pra nada! Eu teria rodado de ano, mesmo que a resposta daqueles pais até certo ponto só poderia ter sido considerada correta.
Estes alunos que ignoram e querem ignorar o que lhes é ensinado, deveriam a meu ver, logo serem identificados e daí levados para escolas técnicas onde lhes seria ensinado um ofício a escolher, mecânico de automóveis, plantador de feijão etc.  Para não saírem analfabetos, deveriam ser convencidos mais tarde ao verem como funcionam as relações de trabalho e outras a se alfabetizarem e nas horas de descanso e entretenimento a título de curiosidade, aprenderão algo a respeito de biologia, geografia e história da pátria.
Insistindo no que verificamos existir hoje em dia, a escola pública se transforma num criadouro de criminosos. O aluno é flagrantemente tudo menos um futuro cidadão. É um inútil. Logo, logo ele percebe que frases feitas cheias de palavras pomposas são exatamente aquilo que muitas pessoas algo mais velhas, inclusive, os pais, podem estar chamando de conversa mole. Existe também essa de quem não consegue respeito, pode sempre pelo uso da força instilar medo. Antigamente, quando mestres poderiam aplicar castigos corporais, ficou nas crianças inserida uma dose de medo que apenas foi superada e eliminada em idade adulta. Insisto em dizer que este tipo de aluno problemático, em suma, deveria ser enviado logo para o ensino profissionalizante.  Aliás, existe uma queixa de empresários em vários segmentos de atividades econômicas de não se encontrar mão de obra adequada para certas atividades. Não se trata de preguiça dos jovens, como muitas pessoas mais idosas insistem em afirmar. Na construção civil existe a queixa de não se encontrar um instalador competente.  Em outro trabalho meu citei essa de que muitos jovens sabem em que ano Dom João VI veio ao Brasil, mas não sabem colocar um prego numa parede.
Com muita razão, a professora insiste que todos os alunos deveriam estudar e conhecer a matéria e muitas vezes levanta a voz.  Acho exageradas essas falácias sobre machismo, mas que existe, nem me atrevo a negar. Se o menino de oito anos ainda enxerga na professora uma segunda mãe, mais adiante, com quatorze, já vê nela uma mulher. E é impressionante o que dizem meninos nessa idade, como, por exemplo, essa camarada não serve nem para passar uma noite na cama comigo! ou esta: vamos ter de currar essa cara para dar um jeito nela! Claro, em mais de noventa e nove por centos dos casos, tudo fica só na conversa. Tem ainda essa outra: A professora também é apenas um ser humano e pode em algumas oportunidades ter um encontro com um amante. Nessa hora – depois que tal fato nada condenável e natural se torna público - começa a valer a sentença: criança não perdoa nada!
Tudo que citei, sempre se refere aos tais guerreiros, pessoas dotados de uma inteligência muito prática, normalmente superior aos que tiram conceitos escolares de bom a ótimo. Eles sentem isso, e por isso mesmo se consideram injustiçados, ao verificar que osinferiores de notas altas nada justas são aprovados. Já estão prevendo que estes irão mais adiante para as universidades e eles serem obrigados a trabalharem em empregos mal remunerados. Não sei, se é verdade, mas há trinta anos um estudioso da área da psicologia me revelou que uma investigação do QI revelou que os criminosos seriam mais inteligente que as pessoas honestas. Em 1950, uma revista alemã falou dos grandes médicos alemães do passado, Robert Koch, Emil von Behring, Paul Ehrlich e outros e perguntou: Onde estão os nossos grandes médicos? Investigou-se e a resposta foi trágica: Eles não passaram pelo crivo do vestibular ou exame correspondente alemão.  Recebi um elogio outro dia que considero exagerado: De que considero raciocinar de tal modo que ponho em cheque a crítica à razão de Kant. Num romance meu falei a respeito dos benefícios da água oxigenada H²O² nos casos de casos gravíssimos de infecções intestinais (por exemplo, depois do consumo de produtos do mar deteriorados) e sei de casos fatias.  Posso estar enganado, apesar de já ter me valido desta terapia e também minha família.  Mas não ter conseguido convencer um único médico sequer, nem do mecanismo desta tentativa de cura e ter de ouvir que se trata de um placebo... Nem mais me lembro o que eu queria dizer a esses profissionais da medicina.
Os alunos como os descritos no início deste mini-ensaio, aos pouco se sentem como um leão dentro de uma jaula. E a diferença de um leão e de um guerreiro dentro da minha tese a respeito da psicologia – que leva em conta nossa maneira de ser na pré-história - não é muito grande. Quando não amedrontados, podemos deles esperar de tudo, inclusive, o de se transformarem em criminosos.
As lamentáveis agressões de que foram vitimadas diversas pessoas ainda considero como sendo um fato previsível, nessas condições, mas já aquele fenômeno muito pior de um aluno usar arma de fogo contra mestres e colegas, já pressupõem o total esmagamento da personalidade de um guerreiro e que não vê nenhuma perspectiva, muitas vezes, por simples falta de capacidade, aliada a um medo patológico de enfrentar o mundo. Tanto isso é verdade que normalmente os atiradores depois da ação se suicidam. Eu me atreveria a dizer que em alguns desses casos, parte da culpa cabe às vítimas, mas em favor das quais também se poderia alegar que existem pessoas cujo valor, vocação e mentalidade é de tal modo original e curiosa que não as conseguimos entender, por mais boa-vontade que se possa ter.
Vou formular agora uma pergunta: Minha exposição convenceu? Provavelmente vão responder que não. Sim, o que nunca é levado em conta é o fato de que os eventos mais trágicos e atitudes mais violentas, não ocorrerem todos os dias, constituindo-se em exceções. O que aqui expomos e recomendamos, têm talvez o mesmo valor ou menor que aquilo que lemos em outros tratados sobre agressões a professoras, pois cada agressor tem motivações que podem surpreender, em muitos casos, pela extrema insignificância dos mesmos. Nunca devemos esquecer que quem age de modo diferenciado do normal, muito além dos limites do socialmente aceitável, de certo, é dominado por uma psicopatologia que é difícil de ser detectada.  No caso dos atiradores sempre é repetitivo ouvirmos que se trata de uma pessoa quieta que aparentemente vivia só para si. Devem conhecer aqueles que não incomodam ninguém, mas que são incomodados pela coletividade?Destas pessoas podemos esperar mais em atitudes associais que daqueles que brigam com todos, salvo o bullying. E convenhamos, sempre dentro do justo princípio do nem tanto, nem tão pouco, existem casos em que os professores ao invés de debelar o bullying, talvez sem nem o sentirem o estimulam e até participam.  Inegavelmente existem pessoas antipáticas que são um pano vermelho para todos os touros da sociedade. Mas nunca nos esqueçamos que também são pessoas com as normais  características e desejos como todos os outros e as motivações que nos levam a agredi-las, é um dos pontos que me levou a dizer que ainda somos animais, pela absoluta ausência de racionalidade ali.
Deve o leitor agora chegar à conclusão de que o agredido seja o culpado? Mas de modo nenhum! Espera-se da professora que dispense o mesmo tratamento a todos os seus pupilos, porém alguns deles até com benesses especiais podem partir para a agressão. Não excluo a possibilidade de alguns alunos de talvez quatorze anos de idade e sexualmente até certo ponto maduros, devido a algumas atitudes involuntárias da professora, imaginarem – cheios de fantasias sexuais - que queira se relacionar com ele e depois ficarem frustrado ao ouvir uma crítica normal.  Insisto, tal ideia só surge na mente de um guerreiro!
O que em nosso trabalho de investigação de causas e motivações, podemos recomendar é uma diminuição de atritos gerais.  E em resumo, insisto eu nessa de não se insistir no ensino fundamental e manter ali os alunos que não se interessam pelo ensinado – cujo valor, no mínimo é polêmico – e sem demora oferecer um ensino profissionalizante prático. Apenas só depois de o aluno ter sido convencido da necessidade de que lhe é ensinado é que o mesmo é alfabetizado e como curiosidade – como se fosse uma conversa que distrai é lhe ensinado biologia, geografia e história.  Não sei, se o leitor destas mesmas linhas se lembra de algo que me marcou: Muitos destes alunos, tipo futuros chefes, trabalharam como entregadores de correspondências, na lavoura e em oficinas.  Eles se orgulhavam destas tarefas. Este tipo de pessoa que designo de guerreiro quer ser adulto. Dispensar a ele esta condição é outra grande necessidade que acontece inegavelmente no ensino profissionalizante. Não há dúvida nenhuma que muitos destes jovens que são tratados como crianças querem mostrar ao mundo que já são adultos. Como curiosidade quero aqui acrescentar – talvez de modo impróprio – algo que Alexandre Magno disse, depois de ter assumido o trono e ter destruído a cidade de Tebas: - Demóstenes me chamou de nenê de colo, quando assumi o trono, agora me chama de menino imberbe. Quando eu chegar a Atenas, vou mostrar a ele que sou um homem.
Acima de tudo deve o ensino merecer uma reforma, nunca devendo surgir a pergunta para o que serve isso? e ouvir como respostaestuda, menino e não pergunta, tu não estudas para a escola, mas para a vida!
O que pode surgir como consequência também não pode ser esquecido: Muitas pessoas abominam a cultura, por lhes lembrar o que aprenderam em vão e que na vida prática nunca usam. Para o próprio bem da cultura geral – que pessoalmente considero ser uma necessidade e, não artigo de luxo – formulo um apelo para reformar o ensino e não reprovar um bom futuro mecânico de automóveis por não saber quem seja Caramuru.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 15

Múcio Scevola Lopes Teixeira

(por Anselmo F. Amaral)

A literatura sul-rio-grandense tomou forma própria, com conteúdo regionalista, e expandiu-se a partir da fundação da Sociedade Partenon Literário, em 1868. Iniciativa de um grupo de jovens liderados por Apolinário Porto Alegre. Ali figuraram nomes como: Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Fernando Osório (pai), Homero Batista, Lobo da Costa, Revocata dos Passos Ligueroa de Melo e o próprio Caldre e Fião.

Em meio àquela plêiade de escritores, artistas e homens de ciência apareceu um jovem poeta com, apenas, treze anos...

continue lendoCONTINUE LENDOcontinue lendo