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Depoimento de Antonio Alberti sobre Rovílio Costa (11/11/2016)

05 de dezembro de 2016

DEPOIMENTO DE ANTONIO ALBERTI no painel Rovílio Costa, um homem à frente do seu tempo (Feira do Livro de Porto Alegre – 2016 – evento da Academia Rio-Grandense de Letras).
 
(Antonio Alberti é italiano, residente em Porto Alegre, empresário no ramo do comércio exterior, tradutor eventual e, mais que tudo, amigo do frei Rovílio Costa.)
 
Em 1985 o governo italiano instituiu o COEMIT – Comitê de Emigrantes Italianos com o objetivo de manter contato com os emigrantes e familiares, desenvolver o ensino da língua e cultura italiana e estabelecer um elo com as autoridades brasileiras.
Fui eleito presidente da entidade e, nessa função, apresentaram-me um frade capuchinho que, modo estranho, vestia roupa comum e não a batina, como estávamos acostumados a ver na Itália.
Conhecê-lo foi uma sorte para mim. O que ele sabia sobre imigração italiana em nosso Estado era inimaginável! Editou centenas de livros sobre famílias e sobre cidades. Passei a frequentar a sua editora, a Est Editora, e a conviver com ele na sala onde escrevia seus textos em meio a montanhas de livros.
Em 1986 fui encarregado de formar uma missão para participar do I Encontro Mundial Sobre Emigração Italiana, em Roma, e o primeiro nome a quem convidei foi frei Rovílio. E ele impressionou a todos pela sua humildade e erudição. No primeiro dia do congresso, o Ministro das Relações Exteriores, Giulio Andreotti, ofereceu como presente uma maleta de couro com marca famosa. Um dia depois o ministro perguntou-me por que Rovílio não usava a maleta e mantinha uma sacola velha de plástico trançado com a figura de um prédio antigo – era a foto do Mercado Público de Porto Alegre.
Assim era Rovílio.
Frei Rovílio, enquanto intelectual, editou cerca de 2.600 títulos e mais de 3 mil autores e ele próprio escreveu dezenas de títulos. Granjeou dezenas de distinções literárias, montou dezenas de bibliotecas na região italiana, principalmente; foi condecorado como Ufficiale dell’Ordine al mérito della Repubblica Italiana; Patrono da 51ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 2005; trabalhou muito pela regulamentação da nova língua brasileira, o Talian, falado na colônia italiana e por isso, em 2005, recebeu o Merito Talian, na cidade de Serafina Correa.
No texto de apresentação ao livro Etnias e Carisma, coletânea em que fui o organizador e participaram 97 autores, dentre os quais os aqui presentes Vânia Herédia e Moacyr Flores, escrevi o seguinte parágrafo:
Como pesquisador e autor, frei Rovílio é aberto e permeável a sugestões, novas ideais, métodos alternativos, piramidando sobre os tradicionais. O lançamento dos três volumes de Assim vivem os italianos, por exemplo, em 1982, foi quase um escândalo metodológico; hoje a metodologia da história oral tem muitos seguidores, institucionais e não-institucionais, e se consolida.
Para não me alongar neste depoimento, desejo trazer a palavra de Luis Alberto De Boni, grande amigo e parceiro de Rovílio nas lides literárias, que está na Itália e por tal motivo não comparece a esta homenagem, com muito pesar.

 No livro As feiras do frei, organizado por Marilene Dorneles, que hoje norteia a Est Editora, De Boni, a certa altura, escreveu:
Por minha indicação Rovílio foi ao depósito da Editora São Miguel, em Caxias do Sul, e lá encontrou 3 mil exemplares da obra Nanetto Pipetta, escrito em Talian, porque o livro deixara de circular por ocasião da última guerra. Ele adquiriu os exemplares, solicitou-me uma apresentação e modificou o primeiro caderno e a capa, e em poucas semanas lá estava de volta o Nanetto, ressuscitado e eternizado. Houve algumas críticas dizendo que não se devia publicar uma obra em dialeto, num momento daqueles, mas as críticas acabaram por aí e hoje Nanetto Pipetta é lido no mundo inteiro.
Encerrando, lembro as palavras de Rovílio no seu discurso de encerramento da feira, em 2005:
Mais importante que estudar, é ler. No ler os outros, lemos a nós mesmos. E, hoje, quando as pessoas se distanciam de pessoas; pais esquecem os filhos e os filhos, os pais, mais importante que estudar e ler, é escrever. Para se defender do mundo instituído e para defender o próprio mundo percebido, o ser humano tem dois caminhos – ou ser um clone do instituído, ou tornar-se uma alternativa-pessoa capaz de expressar o seu sentir, o seu pensar e o seu propor – três verbos que referem a identidade como eterna construção que jamais será empobrecida por aquilo que chamamos conquista.
O homem se conquista ao nunca ser conquistado.
 
Muito obrigado.

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 30

Gregório da Fonseca

Gregório Porto da Fonseca nasceu em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, em 17 de dezembro de 1875, filho de Marcos Gonçalves da Fonseca Ruivo e Luiza Mariana Porto da Fonseca. Estudou na Escola de Guerra de Porto Alegre. Oficial do exército, Gregório da Fonseca foi reformado como tenente-coronel.

De 1930 a 1934 foi Secretário da Presidência da República. Apesar de ser nomeado Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, não chegou a assumir o posto. Poeta, conferencista e crítico, Gregório da Fonseca foi membro do Clube Literário...

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