TEXTOSRESENHAS

O universo do espelho - Luiz Antônio de Assis Brasil

12 de janeiro de 2019

Sabemos o quanto a sociedade contemporânea é contraditória: por um lado, “globaliza-se” e, por outro “regionaliza-se”. Satisfeita em seu papel de criar espaços sem esperanças para o homem enquanto ser social, ávida em promulgar a vitória do indivíduo sobre o coletivo, a mesma sociedade enfrenta um constrangedor e não esperado fenômeno, o qual se consubstancia no crescente valor que adquirem as minorias e os conglomerados de pessoas ex-cêntricas (para usarmos a consagrada expressão de Linda Hutcheon). Mais e mais importância adquirem as diferenças; mais e mais vemos intelectuais e escritores optando pela representação dos que estão à margem da festa da pós-modernidade.

Essa introdução não está aqui a título de captatio benevolentiae, mas para afirmar, e desde início, que A confissão do espelho*, de Waldomiro Manfroi, é um romance que decididamente opta por apresentar-nos um universo de valores que teima em resistir na pequena cidade do interior. Por certo que não estamos falando unicamente de bons valores, mas daquele que, bem ou mal, encerram toda a experiência vital ainda não contaminada pela histeria do politicamente correto. Não se afirma com isso que o autor decai para o irracionalismo do preconceito; ao contrário, mostra-nos uma comunidade feita de pecados e virtudes, eivada de julgamento, a priori, que ainda vive às voltas com as paixões primárias, com as intolerâncias, com as misérias das conversas ao pé do ouvido; ao fazer isso, relata-nos o fato de que ainda muito temos para avançar e progredir.

O romance que referimos aqui é, na sua trama, uma discussão sobre a conquista do poder, representado pela sua face mais evidente, que é a política; é na política que os indivíduos mais se revelam. Trabalhando com analepses bem construídas, Manfroi vai contando sua história a partir de um solo, a que se vão agregando outros, até formarem um painel completo e cabal. Sim, todas as clássicas personagens aqui estão: o padre, as prostitutas, o armazém. Quem não os conhece? A questão está em que neste romance essas personagens se articulam de modo original, pois ao retratar tipos, faz com que vivam situações únicas. E isso é o que seduz na narrativa.

Ao fim e ao cabo, A confissão do espelho traz até nós, e traz bem, uma visão sobre as dessemelhanças. Não dá seu apoio às ideias prontas e à mesquinhez que percorrem os universos fechados; a atitude do autor, enquanto ficcionista, é de alguém que deixa o julgamento ao leitor – como aliás, sempre fez a boa literatura. Manfroi não se intimida em representar as peculiaridades circunstanciais da cidadezinha, pois bem sabe: as diferenças precisam ser evidenciadas pelo intelectual, mesmo que não se concorde em uma única vírgula com a conduta de suas personagens.

A salvação da contemporaneidade passa pelo olhar que se lança àquele que se opõem a um sistema que aos pouco torna-se mundial; mesmo que sejam de personagens/pessoas imbuídas de julgamentos planos e categóricos, simbolizam o direito de todos à opinião. E nada mais múltiplo do que o universo de juízos. E nada mais útil, hoje em dia, do que privilegiar aqueles que pensam de modo diverso. Talvez esteja aí um começo de solução a todas as nossas perplexidades.

O livro de Waldomiro Manfroi traz-nos uma importante colaboração cultural para a concretização de um mundo futuro, no qual será banida toda e qualquer forma de exclusão.

Setembro de 1999

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 39

Francisco Ricardo

(por Francisco Pereira Rodrigues)

Retrospecto histórico:

Em 1º de dezembro de 1901, é fundada a Academia Rio-Grandense de Letras. Em 10 de abril de 1910, é criada a Academia de Letras do Rio Grande do Sul por egressos da Academia Rio-Grandense de Letras.

Em 20 de outubro de 1932, é fundado o Instituto Rio-Grandense de Letras. Entre os seus componentes figura Dario de Bitencourt, que, apaixonado pela literatura de Francisco Ricardo, resolve homenageá-lo como Patrono de sua Cadeira.

Em 1934, João Maia...

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