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Atentado Charlie Hebdo - Waldomiro Manfroi

22 de fevereiro de 2015


    Assim que saiu a primeira notícia do atentado terrorista em Paris, fui à procura de mais informações sobre o trágico acontecimento. Com os modernos meios de comunicação que dispomos hoje, não demorei a conhecer a realidade da tragédia: doze jornalistas e um policial, covardemente assassinados à bala. Nas horas subsequentes, mais e mais notícias surgiram no mundo todo sobre a mobilização policial em busca dos assassinos e sobre a revolta mundial contra o indigno ato. Não só notícias, mas sobretudo, imagens televisivas de passeatas com milhões de pessoas, portando cartazes e expressões em defesa da liberdade de expressão, sob a chamada: Je suis Charlie. Então, milhões de pessoas indignadas tomaram conta das praças, das ruas em protesto contra o brutal desfecho. E surgiram os desdobramentos da caçada aos dois irmãos fugitivos, já identificados como componentes do Estado Islâmico. Os líderes mundiais compareceram aos atos públicos em protesto ao terror em Paris,  desfilaram de braços dados, em defesa da liberdade de expressão e contra o terrorismo internacional. As notícias se sucediam numa velocidade espantosa. Outro terrorista, identificado com a causa dos dois primeiros, havia feito dezenas de reféns num supermercado judaico em Paris. Aliado aos dois irmãos agora já cercados em outro estabelecimento longe dali, ameaçava executar suas vítimas, se não deixassem seus colegas em paz. No fim, um alívio: a polícia libertara os reféns e matara os três terroristas. Por dias, essas notícias se mantinham como assunto mais importante e em sucessivos desdobramentos. Assim, com a nova charge publicada pela revista que agora ficou mais conhecida pelo nome de seu diretor morto no atentado, Charlie Hebdo, ocorreu-me a reflexão de uma realidade que me aguçava: o mundo não teria ficado mais dividido e menos humanizado? Quando digo humanizado, falo de Humanismo, de sabedoria, do saber da ciência, das letras e das artes. Tudo a serviço do bem, do homem livre e como elo de convivência harmônica entre pessoas e povos. Enfim, uma convivência aceitável entre os ocupantes provisórios da aldeia chamada Terra. Mas, sobre os chargistas da revista parisiense manterem o direito à liberdade de expressão, pelo menos cabia para mim uma dúvida: cutucar  onça com vara curta seria agora recomendável? 
 
    Vejamos as consequências dessa nobre liberdade de expressão. Enquanto alguns milhões ou bilhões de pessoas festejam a nova charge, dois bilhões estão em pé de guerra e prometem mais vingança. Exércitos antiterror têm que ser mobilizados com fantásticos aparatos. O processo de desativação da abominável prisão de Guantânamo, que vinha sendo posto em prática, será interrompido. Na Nigéria, onde os serviços de segurança não têm as mesmas condições dos sistemas da França e de outros países mais desenvolvidos, os fundamentalistas fanáticos operam livremente. Há meses, sequestraram centenas de meninas, mataram agora impunemente milhares de pessoas indefesas. Certamente, os ânimos de revanche entre alguns países árabes contra Israel e vice-versa ficarão mais exaltados. Sobre todas essas consequências, intrigantes mais perguntas me incomodam diariamente. São perguntas para as quais, além de não ter resposta, me causam mais dúvidas. Uma delas me açoda com mais frequência e até me questiona: Até que ponto, essas charges têm suporte na razão? Não seriam elas expressões costumeiras de um contexto do dominador sobre o dominado? Atitudes arrogantes e preconceituosas? No dia do atentado que matou 12 jornalistas em reunião no prédio da revista em Paris, por pura coincidência, eu estava assistindo na TV ao filme O Sonho de Wadja, que havia me pescado pelo nome.  Depois de ver o filme até o fim, voltei a sintonizar o canal dos noticiários. Ao me deparar com a real dimensão das terríveis cenas, de súbito, na minha mente aflorou outra instigante pergunta: Se o grupo Charlie Hebdo conhecesse melhor a cultura religiosa dos filhos das famílias praticantes do Islamismo, publicariam charges que ridicularizam o profeta Maomé?
 
    Este texto, cheio de pensamentos distintos dos que circulavam na imprensa e nas rodas das minhas relações escrevi nos primeiros dias do referido atentado. Claro que, antes de publicá-lo em algum veículo de comunicação, mostrei-o a pessoas mais chegadas. Bem, depois de me olharem, mudas, assim como quem olha para um estranho, decidi deixá-lo no conforto da gaveta.
 
    Mas, hoje, ao acordar às quatro da madrugada, intrigado com minha atitude, decidi libertar meu texto das amarras da gaveta e arcar com as consequências.
 
 

Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 13

Carlos Alberto Miller

(por César Alexandre Pereira)

O patrono da cadeira n° 13 da ACADEMIA RIOGRAN-DENSE DE LETRAS nasceu em Rio Grande no dia 12 de dezembro de 1855 e faleceu na mesma cidade em 07 de Maio de 1924. Seus pais foram Joaquim Carlos Miller e Maria Bernardina de Araújo Miller. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Ocupou os cargos de Diretor Geral da Companhia Fluvial em Porto Alegre e a de Chefe dos Práticos da Barra do Rio Grande. Exerceu em Rio Grande a advocacia e o magistério e foi redator dos jornais GAZETA MERCANTIL e ECO DO SUL.

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