CADEIRA 6

ACADÊMICOSQUADRO ACADÊMICO

Élvio Vargas

O poeta ÉLVIO VARGAS nasceu em Alegrete/RS em 14-10-1951 e reside em Porto Alegre/RS, desde 2001.

BRINQUEDOS DE JÓ

"Depois das contrações, apareci.
Duas palmadas fortes e uma sede ardente me despertaram.
O seio anunciado estava seco. Nunca chorei pelo leite não derramado.
Troquei as dores do Édipo, pelas feridas de Rômulo. Um destino duro sempre me guiou.
Domino pouco a arte das palavras. Só isto basta para ventar céu, infernos e mortalha.
Guardo a sete chaves, desde os meus primeiros dias: ferramentas, utensílios
e os mais estranhos brinquedos de Jó."

(Élvio Vargas, abril/2006)

CRONOLOGIA

1951
A 14 de outubro, nasce ÉLVIO VARGAS em Alegrete-RS, filho do ourives Alvimar ("Marzinho") Ogaiar Vargas e da enfermeira Wilma Pereira Vargas.

1958
Inicia o Curso Primário no Grupo Escolar Demétrio Ribeiro, em Alegrete-RS e, logo depois, faz a 1ª e a 2ª séries do Curso Ginasal (1º grau) no Instituto de Educação Oswaldo Aranha (IEOA). A seguir, abandona os estudos em 1969, vindo a completar o Ginásio através do Curso Supletivo.

1959-1968
No interstício deste período, recebe aulas particulares de três professoras em Alegrete-RS: Brandina Pesce, Maria Castro e Maria Faraco. 

"Brandina Pesce, numa pequena sala iluminada, vigiada através da vidraça por uma parreira minguante. Maria Castro, portando lápis bem apontado, transitava pelos avarandados. E o franco biquinho-lábio-semântico da Maria Faraco pronunciando: Le jour de gloire est arrivé. Estas professoras estão eternizadas na minha lembrança" (E.V.).

1969
Escreve desde os anos sessenta, tendo publicado o seu primeiro poema em setembro de 1969, no jornal Gazeta de Alegrete.

1970
Serve como soldado no 6º Regimento de Cavalaria, em Alegrete, de 15 de janeiro a 18 de novembro. Entretanto, o Poeta não guarda boas recordações do seu período de caserna.

"No dia 15-01-1970, acompanhado por José Airam B. Vasconcelos, Mocho Peres, Augusto Zé Colméia, Renato Ferrugem Paim, Gordo Léo e Saulo Medeiros, subi ao "Morro Dos Ventos Uivantes" para quitar minha dívida com o serviço militar. Sete Homens e um Destino. É muito difícil alguém ter idéia do que foi a nossa passagem. A ditadura militar governava com mãos de ferro. Amigos e conhecidos estavam presos nos quartéis. Passeatas, torturas, crimes e Copa do Mundo. A Roda-Viva do Chico estava cada vez mais viva. O jogo era duríssimo e nós, uns guris com 18 anos e poucos meses. Entrei como soldado raso e saí mais raso ainda" (E.V.).

Abaixo, transcreve-se um texto em que ÉLVIO VARGAS expressa as marcas que lhe ficaram sobre o triste episódio de afogamento de Zoroastro, um jovem que, à sua época no 6º Regimento de Cavalaria, freqüentava o Curso de Sargentos. Conta-nos o Poeta que, conforme boatos da época, o pobre moço chegou a dizer ao instrutor que não sabia nadar, mas ouviu do mesmo: "O bom cabrito não berra!" "Não deu tempo de berrar",- reage o Poeta. "Ele afogou-se antes. Foi aberta uma sindicância, mas saímos em 18 de novembro, sem saber o desfecho. "

ZOROASTRO 
A ponte do trem, que cruza rente às fortificações militares, recebendo águas da Restinga e canalizando-as com o rio Valêncio, formara um dilúvio pelo volume das cheias. A notícia escapou do Alto Comando, pelo cozinheiro dos oficiais, que na última sexta-feira de junho, haveria um exercício, com travessia por cordas, na parte mais longa dos vãos. A cinzenta manhã desta manobra alcançou-me junto aos cavalos, pois estivera de cavalariça na noite anterior. O movimento era intenso com viaturas e equipamentos. Assistíamos quietos a crescente odisséia. Perto do meio dia, um vento frio foi brotando do fundo das baias. Gélido seguiu nos flancos, invadindo paiol, enfermaria, garagens e esquadrões. Era o mesmo que soprara no Egito, semeando a praga dos primogênitos. As duas e pouco da tarde aportou a notícia. Zoroastro, o aprendiz de sargento, recebera uma ordem para entrar no rio. Mergulhou e nunca mais foi encontrado. Os olhos verdes dos sarandis, a luz morta das baionetas e a reluzente chama das esporas não conseguiram guiá-lo. Morreram afogados os sonhos do aluno persa. Ao deixar a caserna, reli a célebre frase do General Osório: “É fácil a missão de comandar homens livres, basta mostrar-lhes o caminho do dever” (E.V.). 

Nota da Webmaster: Os parceiros de caserna de Élvio Vargas acima citados com seus apelidos são, respectivamente, Ângelo Garaialdi Peres, Augusto Trindade, Renato Paim e Léo Vasconcelos da Fontoura.

1971
Conclui o 1º Grau pelo Supletivo. 

"Aconselhado maternalmente pela professora Cecília Costa Guterres, numa psicologia superior a Piaget e com uma didática de cartesiana ternura, concluí o primeiro grau pelo Supletivo. Horas de combate e aulas sem trégua festejaram a vitória. Polinômios, o poeta nunca mais esqueceu" (E.V.).

1972
Retoma os estudos regulares no IEOA, mas abandona definitivamente os bancos escolares no 1° ano Científico (2ºgrau). 
De julho a dezembro deste ano, trabalha como redator no jornal Gazeta de Alegrete.

1973
Muda-se para Porto Alegre-RS e começa a trabalhar no Banco Iochpe-Crédito, Financiamento e Investimentos, como analista de crédito, cargo que ocupa até setembro/1974. 

"Ano de 1973! Este talvez seja o horário mais cardíaco da vida do poeta. Os brinquedos recolheram-se às suas caixas, as pandorgas perderam os rumos e a ludicidade exigia um invento novo. As paixões mudaram os endereços e o manuscrito virou poesia. A mão que tomava emprestado o braço da professora, agora sentia pulsações. Os amores correspondidos eram proscritos. A primeira musa despediu-o, ordenando-lhe que não queria mais vê-lo. Ficara noiva. Um olhar negro, marejado de renúncia, umedeceu o ar. A segunda, tragicamente, comunicou-lhe que a mãe praguejava, gritando: Adjutórium nostrum in nómine Dómini. Traduzido do latim clássico para o vulgar, significa: Ele e os amigos saíram da lata do lixo. Na terceira, a mãe bradou: Este menino, além de ser mais novo do que tu, está reprovado na terceira série ginasial! Cansado, vai morar em Porto Alegre, para desafiar a mãe de outras musas" (E.V.).

1974
Em setembro deste ano, volta para Alegrete em férias do Banco e lá decide permanecer.

1975
Trabalha como escriturário no Banco Bradesco, em Alegrete, durante seis meses.

1976
A partir de agosto, passa a trabalhar como Inspetor Regional de Seguros da Bamerindus Cia. de Seguros, com sede em Santa Maria-RS, cargo em que permanece até dez/1985. Por conta desse trabalho, reside em S.Maria durante um período (de 1976 a julho/1979), retornando após à Alegrete-RS.

1978
No dia 28 de janeiro, casa-se com a alegretense Brites Francisca Dorneles Rodrigues, jornalista formada na Universidade Federal de Santa Maria-RS (UFSM). Brites é funcionária pública e trabalha na Assessoria de Imprensa do Procon em Porto Alegre-RS. 
Poucos dias antes do seu casamento, ÉLVIO e BRITES sofrem um acidente automobilístisco quase fatal, na estrada entre Santa Maria-Cachoeira do Sul/RS. 
"Treze dias antes, numa sexta-feira 13, às 13 horas", informa o poeta, sinalizando um cabalístico evento. "Maus fluidos reinaram naquele instante".

1979
Em 30 de abril, nasce em Alegrete-RS seu filho Caian Rodrigues Vargas, advogado formado na UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), São Leopoldo-RS.

1982
Em 29 de setembro, nasce em Alegrete-RS sua filha Maina Rodrigues Vargas, universitária do curso de Turismo na FARGS (Faculdades Riograndeses), Porto Alegre-RS.

1984
Passa a fazer parte do Conselho Municipal de Cultura de Alegrete-RS, onde foi vice-presidente e tesoureiro. 
Escreve textos, com freqüência, para apresentar artistas plásticos de Alegrete-RS. Entre estes, Maria Clara Leiria dos Santos.

1986
Abandona a Bamerindus Cia. de Seguros e passa a atuar como Gerente de Vendas da firma Kurtz Comercial de Veículos-Revenda Ford, em Alegrete-RS, permanecendo neste cargo até março/1988.

1987
Participa do Concurso Laci Osório no cidade de Alegrete-RS, em maio, obtendo o 1° lugar com o poema Sem Reprise
"Quando eu me convoco/ alista-se em mim / este tempo trêmulo / de noites repassadas./ Não me repriso/ sou sempre assim/ este elevador sem sobrenome/ instalado nos prédios/ de tua intimidade/ sonho nu/ no rodapé de tua notícia./ Não me repriso/ sou sempre assim/ este desejo classificado/ no anúncio dos ventos/ o tombadilho do teu último navio/ ancorado na maresia/ do meu olhar./ Hoje sou estas/ pegadas de louça/ na cristaleira frágil/ de tua memória/ pandorga cega debruçada/ nos esconderijos da lua./ Sou sempre assim/ viu!!! " 
O seu poema Sem Reprise é publicado na Revista Ponto, da extinta Fundação Educacional de Alegrete.

1988
Classifica-se no Concurso Mário Quintana em Porto Alegre-RS, com Menção Honrosa, com o poema Paixões Urbanas

"Hoje estou desenhado/ no out-door dos teus subúrbios/ sou esta conspiração silenciosa/ nos utensílios do teu camarim/ um holofote circular/ olho a olho no teu olho/ vaga impressão de possuí-la/ sem posse./ Me ocorre de vez/ uma lenta preguiça/ de filmar os caminhos/ do teu metrô, devorar-me/ na essência perfumada/ dos teus parques/ te cuidar na vidraça/ dos olhares, me derramar/ na volúpia dos teus bares./ Rotos bares no prêt-à-porter/ dos luares./ Hoje sou o sereno quieto/ das tuas madrugadas/ lento esforço de iluminar/ a tua ribalta noturna./ Me ocorre ainda/ uma vontade de suspirar/ bêbado na ânsia de tuas/ avenidas, largas avenidas/ salpicadas de tontas/ e efêmeras paixões urbanas." 

Seu poema Paixões Urbanas é publicado no livro do Concurso Mário Quintana de Poesia - EditoraTchê e Casa de Cultura Mário Quintana
De abril a setembro/1988, trabalha como comprador da Empresa Raul Englert & Cia, em Alegrete-RS.

Nota da webmaster:
Nesta empresa, ÉLVIO VARGAS trabalha junto ao engenheiro MÁRCIO SOUZA SANTOS, com quem desenvolve estreita amizade. Em razão disso, três anos mais tarde, quando Márcio veio a falecer em acidente automobilístico junto com a esposa Jocelene (Kelene) Pahim, ÉLVIO dedica um poema ao casal morto ("Caminhos"), publicado no jornal Gazeta de Alegrete à época, e que veio a fazer parte de seu livro de poesias "O Almanaque das Estações", editado em 1993. Esse poema está transcrito no registro de MÁRCIO, na homepage da família de João de Sousa Brasil.

1989
Classifica com Menção Honrosa Especial uma trilogia de poemas (O Poema Explícito, O Poema Marginal, O Poema Sem Nome), no Concurso Simões Lopes Neto, em Pelotas-RS.

O Poema Explícito
Este poema virá/ rosa do povo/ cristalino, como um/ sonho não sonhado./ Nas ruas virá/ ungindo a febre/ das manhãs iguais./ Invadirá a tua casa/ a minha e a dos outros./ Não será o poema/ do João da feira, do Dinarte/ da mercearia./ Virá pelo clarim das/ Virá pelo clarim das/ auroras incendiadas/ e mapeará tudo/ como um topógrafo/ que mede tardes e crepúsculos. / Então reiventaremos a vida / matricularemos a esperança / na idade dos começos / depois seguiremos/ como um baú de ritmos/ recitando a voz dos cânticos.

O Poema Marginal
O poema que trago hoje/ é um poema marginal/ fundido na insônia luminosa/ das madrugadas./ Avesso às coisas formais/ sem esta métrica terrível/ de um tempo sonâmbulo./ Vive pela força / da paixão que tem/ se expressa pela própria/ liberdade dos signos/ irreverentes ao rigor / dos estilos, anárquicos/ ao modismo das escolas/ mas legítimo diante/ dos grandes comícios da vida./ O poema que trago hoje/ está instalado/ numa armada coragem/ de viver.

O Poema Sem Nome
Meu poema/ não tem mais nome/ nem parente algum./ Vive no subúrbio/ de uma ternura abandonada/ insaciado espreita/ o vulto de uma nova paixão./ Desenhado está/ no parapeito de tua emoção/ morna. Do teu olhar gasto/ ele filma a trajetória/ de um novo verbo./ Minerador garimpa/ jazidas de uma linguagem nova./ Insurreto seduz/ palavras que falem /de tua sensualidade./ Proscrito mora/ nos ninhos úmidos/ da manhã que te acorda nua./ Meu poema não tem mais nome/ hoje é inquilino/ sem contrato/ no bloco das orações...

Participa da Revista Literária Ibirapuitã, de Alegrete-RS.
Organiza, em parceria com o poeta José Carlos Fernández de Queiroga, no final desse ano, a Coletânea dos Autores Diversos (conto-crônica-poesia) sobre escritores alegretenses. 
Nesse ano, decide montar um negócio próprio e, em dezembro, torna-se proprietário de uma pizzaria em Alegrete (Pizzaria Da Vinci), atividade à qual dedica-se até abril/2000.

"Pizzaria Da Vinci! Das fundações até a última pedra, foram meses de suor, esperanças e sonho. Estava pronto o “Tabernáculo dos Pães”. Da Turquia vieram oréganos. Um carpinteiro chinfrim, amigo meu, construiu o balcão. Minha única preocupação era sua atração por essências etílicas. No dia combinado, fui buscá-lo ali perto da Ponte Seca. Bati palmas em frente ao portão, um cusco esquelético nem abriu a boca. Surgiu Gomercindo, com suas bombachas das “1001 Noites”. Parda, levemente tubiana. Ao chegarmos no templário gastronômico, todo cuidado era pouco. Qualquer movimento brusco poderia provocar um abalo sísmico no artesão. Puxou um martelo, encheu a boca de pregos, serrou madeiras, confundiu-se entre o ponto para bater e o polegar. Demoliu o último. Deu uma cuspida no dedo, mais álcool que saliva, e seguiu. Por incrível que pareça, o balcão ficou bem bonito! Só que assemelhava-se à Torre de Pizza. Fugia de sua própria gravidade, bailando. Coisas do Gomer. No dia 08 de dezembro de 1988, às 21 horas, um calor infernal. Minha mãe, os empregados, a Yeda e uns amigos de toda a vida esperavam os convidados. Aos poucos foram chegando as Mona Lisas e os Apóstolos. Estava inaugurada a Santa Ceia da Pizzaria da Vinci. Pelo dízimo, recebi 2400 noites de bonança. Em agosto de 1995, começou o flagelo bíblico do Alegrete. Duas das grandes profecias de José, o escravo vidente de Putfar, materializaram-se. As brancas espigas de arroz curvaram-se para o jugo negro dos ágios. Minha pequena Pátria empobreceu. Resistimos 1726 noites. Em abril de 2000, abandonei a regência da “Ópera Alegre das Minhas Mesas”. Fui para o exílio, com outros retirantes. Não faço mais pizzas. Hoje sirvo poemas e os distribuo em cestas básicas..." (E.V.)

Porta da Pizzaria Da Vinci - setembro/1996

Da dir. p/ esq.: O poeta Carlinhos Lopes - escritor Sérgio Faraco e seu filho Bruno; o poeta Élvio Vargas e o escritor Alcy Cheuiche.

1989
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Academia Rio-grandense de Letras

PATRONOS

CADEIRA 30

Gregório da Fonseca

Gregório Porto da Fonseca nasceu em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, em 17 de dezembro de 1875, filho de Marcos Gonçalves da Fonseca Ruivo e Luiza Mariana Porto da Fonseca. Estudou na Escola de Guerra de Porto Alegre. Oficial do exército, Gregório da Fonseca foi reformado como tenente-coronel.

De 1930 a 1934 foi Secretário da Presidência da República. Apesar de ser nomeado Embaixador do Brasil junto à Santa Sé, não chegou a assumir o posto. Poeta, conferencista e crítico, Gregório da Fonseca foi membro do Clube Literário...

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